CABELO BRANCO
Chegou o temível dia.
O dia que, penteando-me ao espelho, vejo um cabelo branco espetado no meio da franja. Tal como os seus irmãos de cor castanha, este cabelo é espesso como uma corda e bem visível a descoberto. Com os outros 987 678 cabelos castanho-escuro, posso facilmente encobrir o dito sem lhe pôr a vista em cima até nova operação pentear em frente ao espelho.
Não é de bom tom uma PP de cabelos brancos (para aqueles que desconhecem o termo, relembro-vos
aqui Não é particularmente o problema do avançar da idade que me perturba. Eu aparento ter metade da idade que tenho e assim continuará. Contudo, este inestético cabelo branco é o prenúncio de mais uma estafada operação de beleza. Já não basta, depilar, descolorar, esfoliar, tratar sobrancelhas, pôr creme de dia e de noite, leite de corpo para a pele não secar, ainda tenho de me preocupar com o pintar do cabelo, coisa que nunca fiz na vida. Nem mencionei as dezenas de outros rituais de beleza que o mulherio faz e eu recuso-me a fazer: manicure,pintar unhas, máscaras, usar maquilhagem, secar o cabelo, fazer extensões, madeixas, encaracolar cabelo etc e tal (a lista é interminável). Agora compreendo a máxima de Helena Rubenstein: "
Não há mulheres feias, apenas mulheres preguiçosas."
Confessei a minha lamúria ao Ferreira quando fomos ao Cinema nesse dia e ele sai-se com esta resposta que me deixou
knock outVais ficar linda de cabelo branco.Se tivesse esquecido o motivo por que quis tanto reencontrar o meu colega do Secundário (e não me esqueci), eis que este se apresenta naquela sala de cinema. O Ferreira é um doce de pessoa que volta e meia diz frases enaltecedoras de ego com uma desarmante sinceridade que me faz pensar raptá-lo para colocar em cima da mesa-de-cabeceira para proferir frases do género cada vez que desperto para continuar o dia pleno de confiança.
Depois reconsidero o meu egoísmo chego à conclusão que o Ferreira deve ser partilhado com o Mundo, alegrando a vida dos seus habitantes.
Entretanto já apareceu outro cabelo branco para fazer companhia ao outro outrora solitário. Argh!